Dia três do mesmo mês, Doutores Lair & Valdo Vieira — Geriatria e Clínico Geral, dez e meia da manhã.
A televisão da recepção do consultório exibia gravações caseiras com barulhos estranhos que repercutiam pelos quatro cantos do globo, um enigma que começava a intrigar a comunidade científica internacional…
No entanto, a reportagem não despertava o interesse de Olavo, que, alheio aos sons do ambiente, permanecia imerso em seus pensamentos, com as mãos entrelaçadas sobre os joelhos e a cabeça baixa…
Ao seu lado, Vicente, com a boina puxada até os olhos e os braços cruzados em gesto de desalento, também se afundava em um mar de melancolia…
A perda repentina do dinheiro depositado na conta do pastor os havia deixado cabisbaixos e um tanto desolados…
Um suspiro profundo rompeu o silêncio pesado. Olavo, consultando o relógio de pulso, ergueu o olhar como se despertasse de um transe. E, em um lampejo de inspiração, irrompeu:
— Não parar, não precipitar e não retroceder! Então, sabe o que vamos dizer pra essa situação? NUNCA! Nunca vamos nos deixar abater, hã?!
— Você é um homem de grande fé, Olavo… Eu, que sou pastor, acho que tô perdendo a minha…
— Vicente! Quer saber duma coisa? Foda-se esse dinheiro e a mocréia! Deus vai nos tirar do buraco!
— Mas como, Olavo?… Como?… E o pior, sobrou nem um centavo na conta… Até o meu dinheirinho foi embora…
— Vicente, você é um pastor! Você não acredita na Divina Providência?!
— Acredito.
— Então, pô! Vamos nos apegar a isto! É a nossa maior arma agora! Dominus Providebit! — proferiu com muita fé.
Vicente, inspirado pela força de Olavo, ergueu a boina e encheu os pulmões de ar…
— Quer saber?! Você tem razão, Olavo! Não passei quase a minha vida toda sendo pastor pra virar um pamonha descrente no final! Vamos conseguir!
— É isto, porra! Vamos conseguir!
— E se foi aquela japonesa nó-cega que roubou o nosso dinheiro, ela que se lasque! Não vou ficar mal por isso! Eu decido não ficar! Deus proverá o dinheiro e outra mulher melhor!
— É isto, ora, porra! — deu um soco na palma da mão.
— Deus nos ajudou na prisão, nos ajudou no tribunal, e vai nos ajudar agora! — levantou-se inspirado.
— É isto! Dominus Providebit! Nós vamos sair dessa! — levantou-se também.
— Aleluia! — ergueu a mão.
— Aleluia, porra! COF! COF!
A recepcionista e os pacientes, olhando para os senhores, pensaram que se tratavam de dois loucos…
Poucos minutos depois, Dr. Lair, trajando um elegante terno azulado e usando um guarda-chuva como bengala, saiu do elevador e adentrou com pompa a recepção…
Imediatamente, Olavo estendeu-lhe a mão, reclamando:
— Puta que o pariu, Lair! Estamos aqui desde as oito e quarenta! Meu cu ficou amassado de tanto esperar na cadeira!
— Sheik Olavo! — cumprimentou-o com um abraço. Como está?! — Lair.
— Como poder ver, pouco contente! — Olavo.
— Eu estive em uma reunião de negócios com alguns potenciais investidores, por isso me atrasei. Aliás, por que não vira um dos nossos investidores, Olavo? — Lair.
— Investir no quê? — Olavo.
— No nosso Filtro de Ichiro; a idéia está ganhando cada vez mais força! — Lair.
— No duro? — Olavo.
— No duro! O projeto está saindo do papel! — Lair.
— Por que raios as pessoas vão optar pelo seu filtro em vez do tradicional São João (marca de filtro)? — Olavo.
— Olavo, você não está acompanhando as tendências; as pessoas estão cada vez mais pagando por nada. Vai chegar um momento em que vou largar a medicina alternativa para vender nada! — Lair.
— Tá brincando… — Olavo.
— Não é brincadeira! É muito sério! Por exemplo, estou desenvolvendo um produto novo que não existe concretamente, chamado PNL — Lair.
— PNL não é programação neurobaboseira? — Olavo.
— Sim, está começando a fazer sucesso nos Estados Unidos. E o produto que estou desenvolvendo para o Brasil vai vender como água! Vamos no meu consultório, vou mostrar! — Lair.
— Espera! Um momento! — Olavo.
— Sim? — Lair.
— Você tá virando um picareta da porra, Lair! Essas porcarias são para enganar trouxa! — Olavo.
— Se a tendência é que as pessoas paguem por nada, isso só pode nos dizer que as pessoas estão cada vez mais trouxas, sim — Lair.
— Essa é a descrição da situação! E aí? Vai se render a isto? — Olavo.
— Olavo, você não entende a tendência e nem de como fazer dinheiro, falando com respeito — Lair.
— Não! O que eu não entendo é: como você, sendo meu discípulo, gosta de enganar trouxa? Hã? Já falei que não aprovo esse tipo de coisa! — Olavo.
— Eu tô entendendo o Lair… É que no futuro só vai ter trouxa, mesmo — Vicente.
— Bingo! O Vicente acertou em cheio! Aposto que entende de tendência! — Lair.
— Não, é que eu gosto de ler revistas, aí fico sabendo de alguma — Vicente.
— Puta que o pariu! Quero voltar pro medievo da Romênia! — Olavo.
Dirigiram-se para a sala do geriatra…
Em instantes, após colocar o guarda-chuva ao lado da mesa, Lair puxou sua confortável cadeira executiva, dizendo:
— Sentem-se. Vou mostrar o produto pra vocês. Ele está salvo no meu computador — sentou-se na cadeira.
— Lair, vamos deixar isto para depois. Viemos por dois motivos: primeiro, por causa do encontro; o segundo, por causa das informações — Olavo.
— Sheik Olavo, sente-se e relaxe! Vamos falar de grana primeiro! — Lair.
— Então, vamos falar do segundo motivo: conseguiu as informações? — Olavo.
— O que isso tem a ver com grana? — Lair.
— Tem a ver para mim! Eu vou ganhar grana com isto! — Olavo.
— Ê laiá… — inclinou-se e puxou uma gaveta da mesa. Pelo visto, você não está realmente em um bom dia hoje… — Lair.
— A situação é calamitosa, Lair. Você não tem idéia… — Olavo.
— Calamitosa em que sentido? — colocou o envelope sobre a mesa. Você está bem, sheik; acabou de lucrar três milhões comigo — Lair.
— Lucrar uma pinóia! Foi o pagamento justo pelo problema que você e o Pai Nenê me arrumaram, tá certo? E, em segundo lugar, perdi os três milhões… — Olavo.
— Só pode estar brincando… — Lair.
— Gostaria de estar brincando, pulando ou dançando xaxado, mas não estou — Olavo.
— O que aconteceu?! — Lair.
— Aconteceu que, ontem, nós fomos sacar um dinheiro, e, simplesmente, tinha mais nada na conta. Aí, COF, tive um surto no meio shopping e foi uma merda federal. Ligamos para o banco e fizemos um B.O., e nada se resolveu — Olavo.
— Como o dinheiro sumiu da conta?! O banco fez nada?! — Lair.
— Primeiro, o dinheiro estava depositado na conta do Vicente por causa dessas encrencas com os processos e com o Edmund. Então, o banco detectou uma suposta transferência que o Vicente fez para uma conta no exterior, mas ele fez nenhuma transferência. Agora, para resolver essa porcaria é um transtorno infernal, infernal mesmo! E o banco não está com boa vontade de nos ajudar, o que complica mais ainda — Olavo.
— Como não quer ajudar? O banco tem que estornar o valor! — Lair.
— Não se eles entendem que o titular da conta fez a transferência, e para provar o contrário é um inferno monstruoso! A transferência foi feita justamente em um dia que o Vicente foi no shopping com a namorada. Ele acessou minutos antes a conta, o que complicou a comprovação de que não foi o titular que fez a transferência. Isto é uma merda teratológica — Olavo.
— Das duas, uma: ou a Midori memorizou os dados e a senha na hora que eu fui no caixa, ou alguém invadiu a minha conta não sei como — Vicente.
— A japa precisaria ter uma memória monstruosa pra ter feito isto, porém não descartamos a possibilidade — Olavo.
— Falaram com a mulher? — Lair.
— Falamos! Ela jurou que sabe de nada, mas não acreditei muito — Vicente.
— Talvez, ela saiba de nada mesmo. Toma cuidado para não perder a namorada, Vicente. Esse tipo de suspeita é muito séria — Lair.
— Tô tomando cuidado, mas o Diabo é assim: ele faz merda e depois dá uma de doido — Vicente.
— Bom, resumindo: estamos fodidos! — Olavo.
— Olha… — colocou os cotovelos em cima da mesa e mudou a expressão. A situação é complicada, contudo não vou e não posso te dar mais nenhum centavo, Olavo. A única coisa que estou lhe devendo é o salão do hotel para o encontro. A minha mulher vai fechar as pernas se eu te der mais dinheiro… — Lair.
— Não vim pedir seu dinheiro, vim pedir as informações! O dinheiro vem com isto! — Olavo.
— Bem, aqui estão as suas informações… — Lair empurrou o envelope.
— Isto é tudo?! — Olavo pegou-o da mesa.
— São todas as informações que consegui com o gerente desse prédio e com mais outro. Tem coisas interessantes aí — Lair.
— Muito bom! Verei o que você levantou quando eu chegar no hotel. Agora, quero que alugue o salão para amanhã. Vamos fazer esse encontro de uma vez por todas — Olavo.
— Vou alugar pela última vez… — Lair.
— Pode estar certo de que não haverá imprevistos! — Olavo.
— Maravilha! Agora, querem ver o meu produto? — Lair.
— Mostra! — Olavo.
— Simbora! — Vicente.
— Aliás, o Vicente deveria ser um dos meus consultores — clicou no botão “ligar” do computador — , tem jeito para as tendências — Lair.
— Rapaz, não entendo disso, não. Foi um palpite — Vicente.
— Vejo esse potencial em você — Lair.
— Potencial? Já tenho sessenta anos — Vicente.
— Se sente velho com sessenta? — Lair clicou com o mouse.
— Não me sinto… Mas ver potencial em um homem de sessenta anos é meio complicado, não? — Vicente.
— Tenho um tratamento que vai te dar potência além de confirmar o seu potencial — Lair.
— Que conversa é essa? — Vicente.
— Eu chamo de Combo do Lair, uma suplementação de taurina de boi, creatina, tribulus terrestris e omega três — Lair digitou no teclado.
— Contumélias! Eu lá quero beber leite de boi! — Vicente.
— Ora, porra! Essa porcaria deve matar um rinoceronte! — Olavo.
— Até o momento, nenhum paciente meu morreu. Pelo contrário! — Lair.
— Então, você só pode estar dando isto para defuntos! — Olavo.
— Pronto! — virou o monitor. Vejam o meu produto! — Lair.
— Cadê? — Olavo.
O doutor pressionou o botão de reprodução em uma gravação que reverberava sons de águas, ventos e fadas: “Sente-se e relaxe… Você entrará em contato com o turbilhão da prosperidade… Repita comigo: eu sou próspero e rico… eu sou próspero e rico…”.
— Esse é o produto?… — Olavo.
— É esse mesmo. Gostaram? — Lair.
— Puta que o pariu… — Olavo passou a mão na cabeça.
— Rapaz, eu gostei — Vicente.
— Gostou?! — Lair.
— No duro? Como alguém pode gostar de um treco desses? — Olavo.
— É igual a confissão positiva que os pastores aplicavam na minha igreja. Vai vender muito! — Vicente.
— Vai ser a reza ou mantra do futuro, porque, hoje em dia, poucas pessoas gostam de recitações, contudo, ficam atrás de milagres mirabolantes — Lair.
— Vão rezar isso que nem monge reza o terço — Vicente.
— Vocês só podem estar brincando, bicho… — Olavo.
— Sabia que você entendia de tendência e dinheiro, Vicente. Não é à toa que é pastor — Lair.
— Nem tanto… — Vicente.
— Olavo, o Vicente é bom! Deveria aproveitá-lo melhor! — Lair.
— Quer saber? Vamos embora, Vicente! — levantou-se da cadeira. Vamos ganhar o nosso dinheiro enganando filho da puta, não trouxa — Olavo.
— Simbora! — Vicente.
— Vou reservar o salão do mesmo hotel para a parte da noite, assim teremos tempo de organizar as coisas de tarde — Lair.
— Muito bom! Farei um comunicado no Orkut, dizendo o local e o horário — Olavo.
— Deixem a porta aberta, por favor. Tenho pacientes com hora marcada — Lair.
Olavo e Vicente deixaram a sala do incomum doutor…
Escritório do Vazam Hortifrúti, onze e dez da manhã.
Na sala da gerência de logística, Silvio, em sua mesa, colocava um óculos escuro a pedido de Aslan, que, com um cigarro entre os lábios e acendendo-o com o isqueiro, também ostentava um, dizendo:
— Coloca o seu, David.
— Com prazer! — David colocou os óculos.
— Precisa disso tudo?… — Silvio.
— Precisa! — Aslan fumou o cigarro e guardou o isqueiro na gaveta da mesa.
— Já não é o bastante a demissão do cara?… — Silvio.
— O cara em questão é um merda, mano. Relaxa! — Aslan.
— Sim, mas… Ah, sei lá… — Silvio.
— Você é boa pessoa, Silvão, mas tem que aprender a esculachar quando preciso — David.
— Exato! E lembre-se que o cara em questão tarou a Rochelle, tarou a Margot e, provavelmente, tarou a Alana — Aslan.
— O cara é um merda, irmão. Tem que ser esculachado. E olha que eu não curto essas coisas — David.
— Pensando bem… Tem razão! O Jefferson é um merda, mesmo! — Silvio.
— A diferença dele pro Henrique é só uma: passividade — David.
— Mas o Senhor é meu Pastor e nada me faltará, Venha fechar com o certo pra sua vida melhorar… — Aslan cantava ‘O Retorno é de Jedi — Mr. Catra’.
Ouviram-se dois toques na porta, seguidos por um último mais forte…
— Entra! — Aslan.
Jefferson girou a maçaneta e empurrou a porta, falando:
— Mandou chamar?
— Mandei — fumou. Entra aí! — Aslan.
— Tá parecendo o poderoso chefão, lesk — Jefferson entrou na sala e fechou a porta.
— Chega aí! Tenho uma brincadeira pra você assinar aqui — Aslan colocou a caneta sobre o documento de demissão.
— Até o Silvio tá usando óculos — dirigiu-se à mesa. É um culto satânico essa fita? — Jefferson.
— Culto da vitória — Silvio.
— Thug Life, meu queridão — David.
— Thug Life por quê? — Jefferson.
— Jefferson, você está oficialmente demitido, meu chapa! — Aslan.
— Demitido por quê?! — Jefferson.
— Por ser um tarado de merda — bateu levemente no documento. Bora, assina aqui — Aslan.
— O que eu fiz não dá demissão! Eu pesquisei no Google! — Jefferson.
— Pesquisou no Google, mano?! HAHA! — Aslan.
— AH NÃO! KAKAKAKAKAKA! — David.
— Hahahaha! — Silvio.
— Tão rindo do quê?! Eu me consultei com um advogado online também! — Jefferson.
— Caralho! O cara é tão safado que foi pesquisar no Google e consultar um advogado antes — Aslan.
— Tragicômico! Kakakakaka! — David.
— Isso é contra a lei! — Jefferson.
— Contra a lei por quê? Qual é o argumento? — Aslan.
— Porque é, lesk! Não posso ser demitido porque vi as minas de vocês pelo Orkut! — Jefferson.
— Temos um advogado presente. David, faça as honras! — Aslan.
— Poder, não pode mesmo. Mas a empresa pode te demitir quando quiser, desde que pague as despesas da demissão, etc — David.
— Então não é o justa causa?! — Jefferson.
— Não! — David.
— Então vão tomar nos seus cus! Onde tenho que assinar? — Jefferson pegou a caneta.
— Aqui, filhão — Aslan apontou no papel.
— Eu tava pensando que era justa causa — curvou-se para assinar. Pagando, tô indo embora e rindo, seus trouxas! — Jefferson.
— Vai tarde, irmão! — David.
— Um abraço! — Silvio.
— Só pra confirmar: tarei mesmo a Rochelle Wassermann pelo Orkut, tarei mesmo a Margot Ricci, e só não tarei a Alana Vazam porque essa é gente boa. Mas vou tarar quando eu chegar em casa, só de raiva! — Jefferson assinou o documento.
— Decorou até os nomes. Lixão, mano — David.
— Tive pena de você, mas eu estava enganado. Você não deveria ser demitido, você deveria ser preso! Tarado de merda! — Silvio.
— Rala, lixo! — Aslan.
— Vão tomar nos seus cus! — mostrou-lhes o dedo do meio. A primeira coisa que vou fazer é abrir o perfil da Rochelle Wassermann! — Jefferson caminhou para a porta.
— Abre lá, otário! É o máximo que você pode fazer! Não tem capacidade de arrumar uma mina daora! — Aslan.
— Que mina quer esse merda, irmão? Só resta tarar mesmo! — David.
— Merda demais! — Silvio.
— Vou tarar os perfis das minas de vocês, das primas de vocês, das mães de vocês, das avós de vocês, de tudo de vocês! — Jefferson abriu a porta.
— Vai lá! Rala! — Aslan.
Jefferson, com muita raiva, saiu e bateu a porta da sala…
— Tarado e abusado, irmão — David.
— Falta de apanhar — Silvio.
— Vou ferrar com esse merda — pegou o celular que estava sobre a mesa. Gravei tudo o que ele tava dizendo — Aslan.
— Gravou? — David.
— Gravei! — passando o dedo na tela. Falei nada porque ele poderia estar ouvindo atrás da porta — Aslan.
— Kakakaka! O trouxa se ferrou! — David.
— O que você vai fazer? — Silvio.
— O que eu vou fazer? — ajeitou-se na cadeira. Vou espalhar pra todo mundo a gravação. Vou publicar na comunidade do Orkut assim, “SOS Mulheres de Sampa! Maníaco Tarado à Solta!” — Aslan colocou-se a digitar no teclado do computador.
— Genial! — Silvio.
— Manda pra mulherada do RH! — David.
— Vou mandar pra todas as minas que conheço! — Aslan.
— O Jefferson vai ficar famoso! — Silvio.
— Vai! Vai virar uma celebridade! — Aslan.
Minutos depois, Ezequiel, o coordenador de logística, tocou na porta e, em seguida, a abriu. Pôs a cabeça para dentro, perguntando:
— O Jefferson… — sentiu o cheiro de cigarro. Você estão fumando?!
— Vocês não, eu! — Aslan.
— Sabe que não pode fumar aqui! — Ezequiel.
— Relaxa! A ocasião pediu um cigarro! — Aslan.
— É melhor espirrar um perfume antes que o Avraham entre aqui! — Ezequiel.
— Fica tranquilo. No momento, o Avraham não tá em posição de me encher o saco — Aslan.
— Não? Por que não? — Ezequiel.
— Segredos… — Aslan.
— Anormal… Mas, que seja! Não é pra fumar aqui! São normas da empresa! — Ezequiel.
— Eu sei, fio! Pode ficar tranquilo que foi só essa vez. Agora, manda a boa! — Aslan.
— O Jefferson assinou o documento? — Ezequiel.
— Assinou. Ele não passou na sua sala? — Aslan.
— Não, por isso eu vim perguntar — Ezequiel.
— Então ele meteu o pé direto — pegou o telefone da mesa. Vou perguntar pra minha parceira Luana — Aslan discava os números.
— Vê se contrata um cara menos problemático. Outra demissão é algo complicado. Agora, vou ter que distribuir as tarefas na sala — Ezequiel.
Aslan levou o telefone ao ouvido para falar com Luana, e Ezequiel cedeu espaço para Alana, que havia se aproximado, falando:
— Oi, oi, pessoas! — acenou.
— Bom dia! — Ezequiel.
— Olá, princesa! — Silvio.
— Olá, princeso! — sentiu o cheiro de cigarro. Ei, sério que fumaram aqui?! — Alana.
— Foi o seu irmão, chefona! — David.
— Aslan! Sabe que não pode fumar aqui dentro! — Alana.
— Dá um tempo! — desencostou o telefone da orelha. Tô falando com a minha parceira aqui! — Aslan voltou a falar com a recepcionista.
— Vou fingir que não tô sentindo o cheiro… — Alana.
— Foi pra comemorar com estilo a demissão do tarado, chefe. Achei exagero no começo, mas, depois, eu vi que foi pouco — Silvio.
— E como foi a demissão? Ele ficou triste? — Alana.
— Pelo contrário; xingou e falou muita merda — Silvio.
— Nossa! Sério? — Alana.
— Sério! Esse Jefferson é um doente! — Silvio.
— O que ele disse? — Alana.
— Resumindo: confessou que é um tarado e disse que vai tarar mais ainda — Silvio.
— Que nojento! O Jefferson deveria estar internado ou preso! — Alana.
— O cara é um bosta, mano. Foi tarde! — David.
— Sim! Bem, eu vim perguntar quando vocês vão fazer a entrevista com os candidatos à vaga dele, porque, dependendo do número de candidatos, podemos fazer isso no mesmo dia — Alana.
— Na sexta-feira — colocou o telefone na base. Vou anunciar a vaga no site hoje e escolher uns dez caras no máximo pra entrevista. Nem vou esquentar muito a cabeça, só não quero um Jefferson ou um Henrique da vida aqui — Aslan.
— Acho que vou fazer o mesmo. Dez candidatos pra vaga do Henrique tá ótimo — Alana.
— Escolhe um cara bem tranquilo, mana — Aslan.
— Vai ser o meu critério principal — Alana.
— Bom, a Luana disse que o Jefferson meteu o pé sem se despedir. O cara é mala! — Aslan.
— Olha, tenho que pedir desculpas pra você, mano — Alana.
— Oxe! Desculpas pelo quê? — Aslan.
— Por não ter te ajudado a demitir o Jefferson antes. Esse guri é um nojento — Alana.
— Falei, mana! Ele tava fazendo hora extra aqui — Aslan.
— Sim, sim! Me desculpa, mano? Eu deveria ter te ouvido — Alana.
— Lógico! Tá tranquilo! O importante é que o joio foi separado do trigo. Agora, vou mandar uma mensagem pro Xandão, pra saber como tá a situação com a Ariel — Aslan pegou o celular.
— Ah, ele vai levar a Ariel a essa hora? Daqui a pouco é horário de almoço — Alana.
— Sim, porque a lunática pediu que fosse a essa hora. Acho que ela vai almoçar em algum canto — Aslan.
— Bom… apesar dela ser uma trouxa, me preocupo com ela. Espero que não se perca em algum lugar perigoso. Ainda bem que o Marmanjão vai junto — Alana.
— Essa bicha é esperta, mana. Ela sabe se virar — digitando no celular. Na verdade, acho que ela só quis ajuda porque tá com preguiça de pegar o metrô — Aslan.
— Sendo ela, isso é bem possível mesmo… — Alana.
Rua do hotel AirIbis, onze e trinta e quatro da manhã.
Nesse momento, no banco do motorista do novíssimo Volvo estacionado em frente ao hotel, Douglas conversava com Daya por mensagens enquanto aguardava Ariel…:
“Douglas: Don’t worry, madame! Só vou levar essa mina aonde quer que seja e tudo ficará bem! — 11:34 am.
Daya: Honey, everthing is ok! I trust you! I know nothing will happen! — 11:34 am.
Douglas: … — 11:35 am.
Daya: Honey? — 11:35 am.
Douglas: Vc não existe… — 11:35 am.
Daya: Não entendi, sou burra. Explica pls, ksksksks — 11:36 am.
Douglas: KKKKK, tô falando que vc é top, incrível, inigualável, etc — 11:36 am.
Daya: Entendi KSKSKSKS. Tipo, vc não existe também! s2s2s2s2–11:36 am”.
A mensagem de Aslan chegou no celular do rapaz, que a abriu em seguida…:
“Aslan: BOM DIA, ANIMAL RACIONAL! Código vermelho! Louca no banco do passageiro? Ps.: Não dá bobeira — 11:37 am.
Douglas: BOM DIA, HÍBRIDO FALANTE! Código azul! A louca não tá no banco do passageiro. Ps.: Ela não saiu do hotel ainda, acredita? — 11:37 am.
Aslan: Bicha folgada da porra. Se demorar muito, nem vai mais — 11:37 am.
Douglas: Ela tá descendo agora. Vi aqui — 11:38 am.
Aslan: Cuidado com o bote da cobra, lembra da patroa. Mando msg mais tarde — 11:38 am.
Douglas: Sempre! Té mais tarde! — 11:38 am”.
Douglas guardou o celular no bolso da calça e assumiu uma expressão de seriedade…
Após alguns segundos, Ariel, bem-arrumada e carregando sua bolsa sacola escura, abriu a porta do passageiro e acomodou-se educadamente no banco. O rapaz, notando um curativo na lateral do rosto da moça e um leve inchaço ao redor, não hesitou:
— Que bagulho é esse no seu rosto?!
— Não me lembro… Eu penso que cai no banheiro do meu quarto…
— Bebeu muito?!
— Bebi um pouco…
— Isso não tá parecendo resultado de um tombo, não, hein… — analisando.
— Por favor, não insista nessa conversa!
— Você que sabe… — girou a chave do carro. Vamos pra aonde?
— Precisamos ir até o Edifício Altino Arantes. Conhece esse destino?
— Mina, eu falei que não sou daqui. Conheço bem pouco dessa cidade.
— Vou colocar o endereço no GPS do meu telefone — colocou a mão no zíper da bolsa.
— Faz isso que é melhor.
— Quer uma goma? — ofereceu-lhe um saquinho de menta.
— Não tá enfeitiçado, não, né?!
— Ouah! Obviamente não! Pegue!
— Hmm… — enfiou a mão no saquinho.
Em seguida, Ariel digitou o endereço na busca do GPS do celular…
— Mina, primeira coisa que você deve saber ao entrar nesse carro!
— O que eu preciso saber?
— Primeiro: esse banco em que você tá sentada pertence a Daya! Segundo: o motorista do veículo em que você está pertence a Daya! Terceiro: pra qualquer caso, lembre-se que eu namoro a Daya Záfar! TÁ ENTENDENDO?!
— Não precisa gritar, ogro! Entendi que você é um bom namorado!
— Acho bom, mina! Se você tentar alguma gracinha, eu juro que te largo no meio da rua! Não duvide!
— Não irei, é uma promessa! Podemos ir agora?
— Podemos! — deu seta.
— Vou lhe dizer o caminho, está certo?
— Certo!
Douglas girou o volante e acelerou o veículo em direção ao destino…
Edifício Altino Arantes, onze e quarenta e seis da manhã.
O sinistro comandante do Exército, segurando um charuto aceso com a mão direita, observava os prédios de São Paulo pelas frestas da persiana da sala escura do último andar do prédio…
Levou o rolo à boca e puxou a fumaça com deleite. Logo em seguida, expeliu a fumaça e, virando-se para os presentes, disse:
— Estou com muitos problemas. Os generais estão me pressionando, e não tenho como matar todos eles.
— Todos nós estamos com problemas, Sergei. A situação não está boa para ninguém — disse Levinsohn, da poltrona.
— Estou com um maldito problema também. O Papa está revirando os arquivos sobre a maldita investigação do padreco que ele enviou. Aquele ráio idiota o deixou inquieto — o cardeal fumou o cachimbo.
— O que era aquele ráio? — perguntou o homem alto (Sebaú), que fumava um cigarro.
— Não sabemos com certeza, mas pareceu uma manifestação — Levinsohn.
— Uma manifestação das potestades? — Sebaú.
— Foi o que pareceu, mas não tenho certeza — Levinsohn.
— Esses desgraçados não parecem nos ajudar quando precisamos! Estou começando a achar que eles só querem se divertir conosco! — o cardeal.
— Está começando? Para mim, isso estava claro há muito tempo — Sergei.
— O importante, senhores, é fazermos a nossa parte e seguirmos com o nosso propósito inicial. Devemos zelar pelo Perpétuo Equilíbrio. Tudo é pior quando não se há equilíbrio no mundo — Levinsohn.
— Não é mais o pensamento do Sr. Rockeweder — fumou o cachimbo. Esse caduco está mais distante do nosso propósito inicial do que imaginávamos — o cardeal.
— Por falar no Sr. Rockeweder, como está a situação em Astana? — Sebaú.
— O Benjamin está liderando a maioria contra a intervenção; tudo será resolvido nessa semana, mas o Sr. Rockeweder e o Lorde Rothsvinch estão “possessos” — Levinsohn.
— Como está a nossa retaguarda? — Sebaú.
— As nossas forças estão se movimento para proteger o nosso território. Dei ordens para ser algo silencioso, mas a maldita televisão está fazendo cobertura do que está acontecendo — Sergei.
— Televisão, jornal, internet… O mundo piorou depois que essas malditas coisas foram inventadas! Maldito seja Lutero! — o cardeal.
— O importante é que, além de nós, o restante dos que estão seguindo o Benjamin também estão se movimentando. Não podemos confiar mais na sanidade do Sr. Rockeweder — Levinsohn.
— Ele é um maldito caduco! Deve ser deposto para ontem! — o cardeal.
— Não é uma tarefa fácil…. Não se esquecemos de que, com a ajuda das potestades, ele e o Lorde Rothsvinch criaram a nossa Ordem — Levinsohn.
— Danem-se os dois! São dois velhos aberrantes! Vamos nos aliar aos russos e aos chineses de uma vez! — Sergei.
— Isso está fora de cogitação. Não é tão simples, Sergei. Você sabe! — Levinsohn.
— Mas o Rei Abdul está aliando aos russos. Por que não podemos fazer o mesmo?! — Sergei.
— O Rei Abdul tem um maldito reservatório de pretóleo insondável, ou sabe lá como ele consegue tanta riqueza. Nós não temos isto. Eis o porquê do Abdul estar fazendo o que está fazendo. A balança comercial americana depende muito da Arábia Saudita, não de nós — Levinsohn.
— Talvez tenhamos uma coisa… — Sergei.
— Temos o quê? — Levinsohn.
— Disse para os almofadinhas do Estado Maior que não contaria para vocês, porém vou contar: encontramos uma jazida de ouro no interior. O troço vale cerca de dez bilhões! — Sergei.
— Dez bilhões são nada para resolvermos os nossos problemas — Levinsohn.
— Não, mas e se tivéssemos muitas dessas jazidas escondidas? — Sergei.
— Depende da quantidade. Precisaríamos ter muitas e muitas, o que é improvável — Levinsohn.
— Não tenho tanta certeza… — Sergei.
— O que está escondendo de nós, Sergei? — Levinsohn.
— Não direi ainda, ou posso criar expectativas sem fundamentos… Vamos aguardar… — Sergei.
— Está certo… — Levinsohn.
Enquanto os discretos membros brasileiros da Ordem do Equilíbrio e membros do Clube Bilderberg se reuniam no último andar, Douglas estacionava o carro em frente à entrada do edifício…
Com as mãos no volante, inclinou-se para ver pelo para-brisa o nome do prédio. E, admirando o bonito letreiro, falou:
— É esse o endereço.
— Lindo Déco! — olhou pelo vidro.
— Déco?
— Art Déco. Não sabe do que se trata?
— Não.
— É um estilo de arquitetura.
— Tendeu.
— Venha! — colocou a mão na maçaneta da porta.
— Venha o quê? Eu só vim te trazer!
— Por favor, acompanhe-me!
— Mina, eu só vim te trazer! Agora, se vira aí!
— Venha, ogro! Prometo pagar o almoço para você, depois!
— Não, caramba! Por que você tá querendo que eu entre junto?!
— Porque preciso de um guia!
— Eu tenho cara de guia, fia?!
— Tem! Vamos!
— Você é foda, hein! — tirando o cinto. Vê se não demora!
— Não vamos demorar! Será rápido! — abriu a porta.
— Acho bom! — abriu a porta.
Douglas, um tanto irritado, desceu do veículo. Ariel, colocando a alça da bolsa no ombro, fazia o mesmo. Em seguida, fecharam as portas e se dirigiram à recepção do edifício…
Após subirem as escadarias, depararam-se com um amplo saguão de granito e mármore, muito lustroso, que acomodava um grande balcão para as recepcionistas trabalharem.
Sem hesitar, a moça deu alguns meticulosos passos e aproximou-se de uma funcionária que estava separando alguns papéis sobre o balcão, perguntando-a:
— Bom dia!
— Bom dia! Em que posso ajudar?
Douglas, olhando o entorno e admirando os objetos, parou ao lado de Ariel…
— Estou a procura de uma sala comercial para alugar… Poderia me fornecer informações?
— Posso! — apontou para um grande painel escuro fixado atrás da recepção. Essas são todas as salas do prédio. Os campos vazios são de salas desocupadas, mas vocês devem combinar os valores com o proprietário.
— Ouah! São muitas salas! — olhando o painel.
— Sim, o nosso edifício é um dos maiores de São Paulo.
— Hm! E posso falar com o proprietário?
— Depende do proprietário.
— Há mais de um?
— Sim, e os proprietários maiores são os donos da W.L. Serviços Jurídicos & Administração. Entre em contato com a secretária. Quer o cartão?
— Agradeceria!
— Deixa eu ver se tem algum… — encurvou-se para procurar no balcão.
— Existe alguma empresa ligada a escavação ou a arqueologia aqui?…
— Não que eu saiba. Só há uma construtora.
— Construtora de quê?…
— Como de quê? De prédios, casas, etc.
— Desculpa a pergunta… Não sou brasileira…
— E no seu país não existem construtoras?
— Existem, contudo de diversos segmentos…
— Não sei o que isso quer dizer, mas aqui está o seu cartão — estendeu-lhe.
— Merci! — pegou-o.
— Vocês são um casal?
— Absoluto! — pegou na mão de Douglas.
— QUÊ?! — Douglas arregalou os olhos.
— São um bonito casal! São noivos ou namorados?
— Somos casados! — Ariel.
— … — Douglas rangia os dentes.
— Estão em um bom momento?… — reparou a expressão do rapaz.
— Absoluto! Que pergunta estranha!
— Tem certeza?…
— Senhora, agradeço a ajuda, mas devemos ir agora. Tenha um bom dia!
— Por nada! Igualmente!
Ariel puxou Douglas pela mão e os dois caminharam para sair do edifício…
Descendo a escadaria da entrada, o rapaz, muito bravo e contendo-se para não gritar, murmurou:
— Pode soltar a porra da minha mão?…
— Ouah! Desculpa! — soltou-o.
— Mina… Você tem menos de um minuto pra se explicar… — estalou o pescoço.
— Ogro, acalme-se! Aquela mulher não nos conhece!
— Foda-se, loira! Deus me conhece, e ele tá em todo lugar!
— Você é religioso demais!
— Não sou religioso! Sou temente a Deus, à minha mãe e, agora, à minha namorada, caralho! Tá tirando?!
— Não lhe caiu algum pedaço! Acalme-se!
— Mina, você disse que não ia fazer gracinha… Sabe o que eu deveria fazer agora?…
— Se me agredir, chamo a polícia!
— Não vou te agredir, lunática! Não sou louco, caramba! Eu deveria deixar você aqui sozinha!
— Não seja exagerado! Está parecendo o meu primo, o Aslan!
— Eu me pareço com ele em muita coisa, mesmo! Acertou!
— Vocês são dois ogros!
— É isso! E acho que você vai ter que arranjar um táxi!
— Mas podem ser bons também…
— Ah, agora eu sou o Shrek, né?! Você é esperta, mina!
Pararam ao lado do veículo…
— Escute, vamos almoçar. Quero pagar a minha promessa. Não seja tão intransigente!
— Tá de boa, fia! Não precisa me pagar nada!
— Insisto! Como vocês brasileiros dizem, “promessa é dívida”. Estou certa?
— Tá certa! Mas comigo não tem essa, não. Tá de boa!
— Vamos! Chega disso! — abriu a porta do carro.
— Caramba! Você é insistente pra caralho, hein! — segurou a porta para a moça entrar. Entra logo nessa merda, porra!
— Merci, chevalier! — inclinando-se para entrar no veículo.
— Ah, cala a boca! Entra logo! Se foder, viu!
Segurando a risada, Ariel acomodou-se no banco do passageiro, achando hilária a reação de Douglas, que, enfurecido, fechou a porta com força e xingou repetidamente a moça…
O rapaz contornou o veículo e abriu a porta do motorista. Sentou-se no banco e a fechou. Girou a chave na ignição e, de repente, a moça caiu na gargalhada…
— Tá rindo do quê, louca?!
— De você! Hahahahaha! — puxou o cinto.
— Eu tenho cara de palhaço, lunática?! Sou integrante de circo, caramba?! — puxou o cinto.
— Hahahahahaha!
— Só por Deus, irmão… Você entrou no meu ‘top dez minas mais surtadas que já conheci’. Caso perdido! — deu seta.
— Ogro, você é muito engraçado!
— Eu sou engraçado? — girando o volante.
— Muito engraçado! Quanto mais bravo está, mais engraçado também está!
— É engraçado pra você que é mulher, fia. Se você fosse um pentelhudo, já tinha recebido um diretão dos meus quarenta de braço!
— Ogro… Você já procurou um profissional da saúde mental?…
— Nunca precisei! A minha mãe era a minha própria profissional, tá ligada?!
— Estou me perguntando… Você trata a Daya dessa maneira?…
— Evidente que não, fia! Você é retardada?!
— Fico aliviada por ela, confesso…
— “Ain, fico aliviada por ela, confesso…” Por que não cala essa boca?! E para de mencionar o nome da minha princesa, porra!
— Nesse momento, direi algo sério: até que gostei de você, garoto. Embora seja bravo, você é doce por dentro. Posso ver! Creio que a Daya se apaixonou por você por esses motivos. E mais um outro…
— Obrigado! Agora, pra eu não cortar o melhor clima que tivemos até o momento, que tal você fazer o favor de ficar quieta, hein?! Ou que tal falar só o necessário, ou evitar de me deixar puto?!
— Está certo! Ficarei em silêncio. Vamos somente almoçar e podemos voltar para o hotel.
— Graças a Deus! Obrigado, Senhor! — deu seta.
Depois de alguns minutos em silêncio, Douglas sentiu-se mal por tratar Ariel com rispidez. Resolveu desculpar-se…
— Mina…
— O que é?
— Olha, foi mal aí… Acho que peguei pesado…
— Está bem.
— Desculpa aí… O Xandão é meio brutão mesmo…
— Está bem, você é um ogro, e os ogros são grosseiros.
— Vamos fazer o seguinte: eu pago o almoço como pedido de desculpas.
— Está falando sério?
— Tô falando sério.
— Ouah! Fico contente!
— Top!
— Que tal sermos amigos? Eu gostei de você!
— Calma lá, fia… A situação não tá boa, não…
— Por que não está?
— Por quê? Mano… Você ainda pergunta?
— Sim, por que não está?
— Porra, mina… Você só xingou as meninas, xingou a minha namorada e causou um mal-estar do caramba! Como a situação estaria boa, hein?
— Mas isto foi passado.
— Foi passado? Isso foi no domingo!
— O domingo é passado, ora!
— Mano do céu… — passando a mão na cabeça. É sério, acho que nunca conheci um ser humano igual a você…
— Não compreendo… Passado é passado!
— Tá certa, mina. Deixa pra lá! Desisto!
— Está certo.
— Bom… Deixa eu te perguntar um bagulho, então…
— Pergunte.
— O que você foi fazer no prédio exatamente? Aquilo foi muito estranho.
— Sobre isso, prefiro não comentar.
— Tem certeza?
— Absoluto!
— É absoluta, no caso…
— Merci!
— Hmm…
— Bien, você apenas precisa saber que sou uma química e arqueóloga muito obstinada, e que está procurando o que deseja.
— E o que você deseja?
— Materiais…
— Materiais em um prédio comercial?
— Sim, contudo não da maneira que você pensa…
— Hmm…
— É uma lástima que está mais difícil do que eu imaginei… Mas, não estou desanimada! Ainda tenho o que procurar!
— Espero que você não acabe achando problemas, mina… A minha intuição tá me alertando, tá ligada? — deu seta e girou o volante.
— Agradeço. Você é um cavaleiro!
— Cavaleiro, ogro… Cada hora, sou uma coisa… E chegamos! Vamos comer nesse restaurante!
— Ouah! Incrível! Vamos comer!
Douglas manobrou o carro na vaga reservada para a clientela do restaurante…
Em instantes, desceram do veículo e adentraram o estabelecimento para almoçarem…
Continua…
Capacidade de fabulação notável. As contextualizações maiores deixaram o enredo bem claro ( esse me parece ter sido mais longo não é? ) A maneira como os diálogos estão articulados deixam a leitura suave e prazerosa. Particularmente, o último diálogo destaca-se pela linguagem bem trabalhada. A forma como os personagens se expressam reflete quem eles são, sem sacrificar a qualidade literária. A correção gramatical que o paulista faz à personagem estrangeira é um detalhe especialmente verossímil e mostra um cuidado excepcional com a autenticidade dos diálogos.
"— É absoluta, no caso…
— Merci!"
Parabéns pelo excelente trabalho!
"Puta que o pariu! Quero voltar pro medievo da Romênia!" " — Mas isto foi passado.— Foi passado? Isso foi no domingo!— O domingo é passado, ora!"
Genial.